domingo, 10 de abril de 2011

A ESCOLA NAS PÁGINAS POLICIAS: UMA REFLEXÃO A PARTIR DA CARNIFICINA NO RIO DE JANEIRO
Um balanço das manchetes midiáticas dos últimos seis meses mostra a realidade social e econômica do Brasil, onde se aprofundaram as diferenças de poder aquisitivo, se deterioraram as condições de saúde, segurança e educação (que já eram ruins) e mascaram a nossa verdadeira realidade, nos dando a falsa impressão de que tudo vai bem, a despeito dos baixos salários pagos aos trabalhadores que realmente sustentam a economia do país. O que importa aos governantes é a arrecadação desenfreada, ambiciosa, de recolher mais aos cofres públicos, distribuir entre os que não produzem (através dos benefícios dados pelas “bolsas” e outras regalias semelhantes) e distribuir entre o velho sistema do “compadrio”, através do leilão de cargos utópicos e desnecessários, sem se importar com o destino do país.
Favorecidos por este cenário temos nos defrontado diariamente com os problemas de violência: em casa, na escola, no trabalho, na rua, nos presídios, enfim em todos os segmentos e classes sociais. Neste contexto inserimos a tragédia ocorrida na escola pública de Realengo, no Rio de Janeiro. A ação cometida pelo matador revela a sua demência, revolta, descontrole emocional, que talvez tenha buscado na ideologia de religiões suicidas as respostas que poderia ter tido com um simples acesso aos médicos psiquiátricas, que poderiam ter conduzido de forma diferente o destino desta pessoa. Mas, quem depende do SUS, muitas vezes, morre na fila de espera. Teríamos que ter atacado as causas e não tratado as conseqüências, como está sendo feito agora, pelos órgãos públicos, onde não faltarão, com justa razão, atendimento multidisciplinar para as famílias que sofreram a perda de seus filhos.
É neste terreno, focado em ações multidisciplinares dos órgãos públicos, que podem residir as respostas do que o Brasil precisa: prevenção...prevenção e prevenção. E como ela pode ser realizada???? Eu não tenho a bola de cristal para prever o futuro, mas certamente tenho leitura de mundo e bom senso para arriscar um palpite: maior atenção do setor público e investimento na educação. Mas na educação como um todo, a começar pelo controle da natalidade, distribuição de renda justa, acesso ao mercado de trabalho, assistência médica, condições humanas de moradia, segurança para todos, enfim, sabemos do que o Brasil precisa, exceto alguns dos nossos governantes, que fazem vista grossa a realidade que os circunda.
Toda sociedade espera ver sua escola figurar como manchete de jornal pelo desempenho de seus alunos, pelo aprofundamento dos saberes, pela premiação em projetos, pela qualidade da sua atuação colocando profissionais preparados no mundo do trabalho. Mas o que temos assistido nos desilude: agressão entre alunos e contra os mestres e direção; bullying; troca de papéis: a escola não consegue mais ministrar a educação formal porque a educação informal foi terceirizada, pela família, também para a escola. Assim, o aluno no turno que deveria aprender os conteúdos de cada disciplina precisa aprender a escovar os dentes, conviver com os colegas, sentar corretamente, ser atendido por profissionais específicos e se alimentar. Sim senhores, para quem não conhece a realidade escolar lhes afirmo que muitos pais escolhem a escola para seus filhos de acordo com o número de refeições dadas para as crianças. Então, na minha concepção, a distribuição de “bolsas” sem muitos critérios, pode ajudar sim, mas no sentido de incentivar as famílias a terem mais filhos. E o problema continua sendo jogado para frente, sabe-se lá até quando...
A realidade é que a escola, assim como a segurança e a saúde carecem de atenção, investimento, prevenção. A tragédia do Rio de Janeiro foi somente um caso isolado, mas que precisa ser contextualizado. Talvez, quando essas ações (que Deus nos livre) passem a ocorrer em outros contextos, atingindo realmente as pessoas que detêm o poder, elas venham a ser vistas como um sinal de que o Brasil precisa de ajuda. Mas de ajuda de todos: pais, filhos, governantes, políticos. Não podemos continuar impassíveis, cercando nossas casas e andando em carros blindados. Precisamos isto sim, de ações para o bem público, previstas pela legislação, mas não postas em prática ainda.
Enquanto isso, a escola continuará na coluna errada dos meios de comunicação, ou seja, na coluna policial. E ela não existe para isso.