terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A FALTA DE CIVILIDADE GERA TRAGÉDIAS EM TODOS OS SEGMENTOS SOCIAIS. PORÉM, A HUMANIDADE NATA NOS BRASILEIROS AMENIZA MUITAS SITUAÇÕES


Há alguns meses atrás escrevi uma crônica onde afirmava e demonstrava através de situações reais que o nosso país é feito de contrastes. Agora, mais uma vez, essa afirmativa se confirma, pois não são poucas as situações que nos têm demonstrado a falta de civilidade das pessoas e, ao mesmo tempo, o espírito solidário que temos diante das grandes tragédias que abalam o país.
A tarefa mais difícil é sem dúvida nenhuma falar sobre a falta de civilidade. Civilidade no sentido denotativo do termo: “conjunto de formalidades observadas pelos cidadãos entre si em sinal de respeito mútuo e consideração”. (Aurélio Buarque de Holanda). Nesse contexto, a relação é imensa. O jornal Zero Hora do dia 18 de janeiro do corrente ano traz uma lista interminável, ilustrada com exemplos inimagináveis de situações de pichação; depredação de telefones e da iluminação pública, falta de respeito às normas de trânsito; trotes aplicados especialmente através dos telefones de utilidade pública e os danos feitos no transporte coletivo, sob forma de riscos, fixação de adesivos até a quebra de bancos e de vidros.
Lendo e refletindo sobre os levantamentos trazidos pelo jornal referido ficamos boquiabertos e achando que existe certo exagero. Como é que as pessoas que precisam de todos esses meios colocados à sua disposição, pagos com o dinheiro dos impostos que eles mesmos contribuem, podem apresentar comportamentos tão estranhos e antissociais???? Será que em suas casas fazem a mesma coisa???? Ou, então, na escola???? Muitas vezes, as ações praticadas na escola, em locais públicos, em propriedades alheias não são feitas em suas casas. Pelo menos é o que afirmam os pais quando são convidados a comparecer na instituição educacional para serem cientificados de “certas atitudes’ de seus filhos.
Que estranho mundo é este que temos descortinado em nosso dia a dia. Não respeitamos o que é público, mas cuidamos do que é particular. Isto já é um traço cultural brasileiro inserido que se perpetua em muitas pessoas, de diferentes classes sociais. Exemplos pipocam todos os dias, em diferentes lugares. Basta observar as ações praticadas pela maior parte dos políticos: legislam em causa própria, se sentem donos do poder para o qual foram eleitos democraticamente por certo tempo. Não estão ai os ex-governadores com vencimento vitalício, numa nítida demonstração de desconsideração com o dinheiro público??? Estes são apenas um exemplo, para ilustrar a afirmação. O Presidente Lula, que continua sendo notícia, diante das ações realizadas no final de seu mandato ao solicitar os passaportes diplomáticos para seus filhos e usufruir de um veraneio particular, ao qual já não fazia jus.
Mas, sempre temos uma contrapartida: embora tenhamos toda essa sujeira embaixo do tapete, a solidariedade das pessoas, o trabalho voluntário, a defesa civil e muitas outras organizações não-governamentais que vão surgindo têm amenizado o tamanho da tragédia ecológica que arrasou as cidades do Rio de Janeiro. E assim nós tentamos buscar em grandes ações humanitárias a sublimação de atitudes imorais isoladas daqueles que teriam a obrigação do preservar o que é público e defender o povo, retribuindo os votos que os elevou a pessoas que têm uma vida especial e um julgamento especial, embora se valendo de recursos públicos.
Falta de educação? Falta de diálogo em casa? Falta de orientação? Diante de tantas indagações o futuro deve trazer as respostas para tantas faltas. Quem sabe se partíssemos da velha, mas sempre atual “vergonha na cara” muitas ações indignas seriam deixadas de ser prática cosntante.

A oportunidade faz o ladrão

Por que não começar uma reflexão com um adágio popular? Embora seja um lugar comum e uma forma de começar alguma coisa sem entrar direto no assunto, este velho ditado que nos acompanha desde sempre não é simplesmente um ditado popular já é um princípio consagrado na nossa cultura política. Muitos cronistas e até analistas políticos têm se referido a ele para “justificar” as barbaridades que acontecem no cenário nacional.
Mas vamos por partes: o governo Lula deixou o cargo presidencial com incríveis 87% de aprovação de sua administração. Logo que me deparei com este índice sai buscar em fontes confiáveis a certeza de que havia ouvido direito. Mas é verdade. Todos os meios de comunicação divulgaram essa pesquisa. Os mesmos índices. E em todas as classes sociais.
Então, isso quer dizer que 87% dos eleitores brasileiros ou dos cidadãos entrevistados, de norte a sul do país, aprovam com louvor que o senhor Lula atropele a hierarquia, o bom senso, a norma culta da língua portuguesa, as promessas não cumpridas, o engodo da sua prestação de contas, enfim, tudo aquilo que ele fez e continua fazendo, certo de que está agindo dentro do correto porque detém a aprovação da quase totalidade dos brasileiros.
Por dedução, aplaudimos a não extradição de Cesare Battisti, embora esta já estivesse decidida pelo STF, e somente recebeu o aval do presidente. Batemos palmas para os filhos de Lula, jovens que deveriam ser iguais aos demais brasileiros e com isso não abusar da mordomia ilegal e imoral de que se valeram ao se beneficiarem de passaportes diplomáticos. Que contraste: a fila, criada e cultivada no Brasil não faz parte do dia a dia daqueles que foram eleitos para melhorarem a vida do povo. Para tudo entramos numa fila sem fim: para conseguir uma consulta médica, para retirar medicamentos, para sermos atendidos em órgãos públicos e privados, enfim, a fila anda e nunca tem fim para 87% dos brasileiros que aprovaram as ações do governo que fez tantas coisas boas segundo as pesquisas, inclusive incentivou as últimas ações parlamentares na correção dos salários do Legislativo e por tabela dos cargos importantes dos demais poderes constituídos.
Ah....mas o salário mínimo, os vencimentos dos professores, policiais e demais categorias de base, que mantêm o poder e garante os votos não são levados em conta na hora das benesses. Que saudades do tempo em que tínhamos oposição, dos cara pintadas que saiam nas ruas, liderados pelos mesmos que hoje gozam de todos os benefícios legais propiciados pelo poder.
Os professores, especialmente os que fazem jus ao título acadêmico que conquistaram devem se remoer ao ver que todos os seus ex-alunos, hoje eleitos pelo voto popular, precisavam ter pegado recuperação ou reforço em disciplinas fundamentais, como a língua portuguesa, a ética e a moral. Taí um dos motivos do desinteresse dos jovens em se tornar professores, num país onde a educação continua sendo um gargalo intransponível.
Se “a oportunidade faz o ladrão” precisamos repensar primeiro em educar o povo em outros moldes, afastado dos preceitos do “toma lá, dá cá”. Essa é uma condição essencial que pode oportunizar mudanças de fato, a partir da educação e da cultura.